Eu já falei muitas vezes que eu não sou fã de remasters.Eu me senti tremendamente confuso quando a Paradox e a Haemimont Games anunciaram “Surviving Mars: Relaunched” (Steam / PlayStation 5 / Xbox Series S/X). “Mas o jogo não tem nem 10 anos”, disse a mim mesmo. Agora, mesmo após jogá-lo por boas horas, eu consigo compreender a decisão, ao menos em partes.
Quando o joguei pela primeira vez no lançamento, considerei ele um jogo parcialmente inacabado. Havia uma severa falta de conteúdo “endgame” e poucos motivos para voltar a jogá-lo após completar uma campanha. Esses problemas foram sendo resolvidos ao longo do tempo por meio de várias atualizações e DLCs.
No entanto, da minha parte como um crítico, eu via apenas “retalhos”. Me focava demais nas adições de um DLC ou de como ele impacta a campanha sem conseguir ter um panorama geral do jogo. É um problema que não se limita a “Surviving Mars” em si, mas a necessidade de ser conciso na escrita — a não ser, é claro, que vocês amem textos com mais de 4000 palavras.
Mas antes de eu desembestar a escrever sobre a remasterização, preciso explicar o que é “Surviving Mars”. O projeto originalmente produzido pela Haemimont Games em 2018 o coloca no controle de uma missão para colonizar marte. Cada partida começa com a escolhe de um patrocinador – aquele que vai pagar pelos foguetes e mantimentos.

As horas iniciais são “calmas” em comparação a outros construtores de cidade. Você vai passar boa parte do tempo coletando recursos com os seus robôs até conseguir construir uma colônia simples, e posteriormente, uma grande colônia em Marte.
Em paralelo, você também precisa pesquisar novas tecnologias, aprender a se tornar autossuficiente em vez de depender de foguetes de abastecimento da Terra, construir cúpulas habitáveis para os colonizadores e muito mais.
É aí que as coisas começam a ficar interessantes. Onde o jogo original oferecia um DLC que trazia a possibilidade de construir edifícios para terraformar Marte em um planeta verde ao ponto de remover a necessidade de domos, “Surviving: Mars Relaunched” o integra de forma muito mais natural – quase como uma etapa “essencial” para o processo de colonização de Marte.
Muito disso ocorre graças a nova interface, que agora não só oferece uma visualização mais agradável de todos os recursos que a sua colônia tem, e necessita, mas integra os DLCs para que eles não aparentem algo “à parte” ou “opcional”. Vejo como a maneira da Haemimont Games dizer: “Não, você ainda não chegou ao fim, ainda faltam muitas etapas”. Uma mudança que me agrada demais.

A segunda maior mudança é presença de um sistema político — a assembleia de Marte. Se fosse para julgar “Surviving Mars: Relaunched” puramente por essa inclusão, eu já diria que ele valeria a pena.
A assembleia de Marte expande, e muito, o já presente sistema de facções que estavam presentes no original e apresenta mais desafios do que eu imaginava. Se eu já corria contra o tempo para evitar que a Rússia criasse um domo antes de mim, imagine agora ter que bater boca com o país ou outros tantos patrocinadores sobre os direitos ou diretrizes que governam o novo planeta?
Para mim, é o tempero de tensão que faltava em “Surviving Mars”, e a forma que ela evolui com novas facções de pessoas que nasceram em Marte e agora buscam a sua própria identidade é brilhante. E tudo isso é envolto com um simples, mas eficaz sistema de leis que permite você explorar o planeta com mais facilidade. Isso é, se conseguir fazer com que a lei seja aprovada. A minhas tentativas foram um desastre.
Primeiro eu tentei agradar as facções majoritárias da assembleia, mudei regras dos meus domos, ajustei parâmetros e até reduzi o consumo de comida dos meus colonizadores – o que os irritou bastante. Tudo isso para tentar passar uma lei que aumentava em 50% a carga dos trens de “Surviving Mars: Relaunched”. Após várias tentativas, a maioria das facções rejeitou a proposta pois iria trazer muita competitividade para países oriundos da Terra como Brasil e Estados Unidos. Malditos, nem em jogo brasileiro se safa.

Eu teria gostado mais do sistema de leis e política se ele fosse um pouco mais acirrado, se a aprovação ou negação de uma lei tivesse efeitos mais “catastróficos” por assim dizer. Há a possibilidade de uma “revolta” na assembleia, mas após tentar fazer isso ocorrer múltiplas vezes, eu sequer cheguei perto. Pode ser que o jogo tenha sido bonzinho demais comigo, ou eu só tive “azar” em não ver o potencial completo da assembleia.
Infelizmente, é por aqui que as novidades param. Todo o restante de “Surviving Mars: Relaunched”, é, bem, “Surviving Mars” com uma nova pintura. Eu não quero minimizar o trabalho da Haemimont Games. Eles deram uma caprichada extra nos visuais, o terreno de Marte, os domos e os efeitos estão bem melhores, mas não é nada que vai te deixar boquiaberto.
A minha maior frustração fica para a quantidade de bugs que presenciei nas minhas horas de jogo. Alguns que devem estar fazendo aniversário, pois os vi ocorrerem no jogo original. Um deles, que é praticamente meu arqui-inimigo, são colonizadores reclamarem que não há comida suficiente sendo distribuída sendo que eu tenho um estoque e uma variedade enorme de comida. Precisei reiniciar o jogo três vezes para que os colonizadores reconhecessem que, de fato, há comida na colônia. É algo que invalida uma partida? Não, mas para uma remasterização, bugs como esses sequer deviam existir.
O que me leva ao principal ponto de “Surviving Mars: Relaunched”: Para quem, exatamente, é esse remaster? A não ser que você seja um entusiasta do construtor de colônia, ou não possui todas as expansões, eu não vejo um grande motivo para comprá-lo. Por outro lado, a Haemimont Games novas expansões para 2026 que vão enriquecer ainda mais o jogo e, quem sabe, trazer uma camada extra de complexidade.

Mas, para aqueles que não o jogaram no lançamento, eu o considero uma ótima adição a sua biblioteca — ouso dizer que é até um “clássico” a esta altura já que nenhum outro jogo que diz respeito a colonização de outros planetas chegou aos pés dele. Não é o meu jogo favorito da Haemimont Games – este sempre vai ser “Jagged Alliance 3” seguido de “Stranded: Alien Dawn”.
Agora que o vejo da sua forma completa, com todos os DLCs integrados, digo que ele é um bom jogo. Sim, até com o bug que eu citei acima. Talvez eu tenha sido um pouco severo demais ao julgá-lo em 2018. Essa é a oportunidade de ouro da desenvolvedora de finalmente completar o projeto que ela começou quase uma década atrás. Ainda não tenho certeza do que o futuro reserva para ele, mas mesmo na sua atual conjuntura, foi divertido revisitá-lo.
Surviving Mars: Relaunched
total - 8
8
: “Surviving Mars: Relaunched” é ótimo para quem não tem o jogo completo, ou nunca aproveitou os DLCs. A integração deles com a nova interface é fantástica e dá uma sensação de um jogo “completo”. Para os entusiastas, o sistema de assembleia é uma boa adição e cria momentos de tensão, mas não vai mudar radicalmente a sua experiência. Ainda assim, o título da Haemimont Games se sobressai e, é tão gostoso de jogar quanto era em 2018.

