Quando é hora de escolher o que jogar, eu tendo a colocar jogos cooperativos em uma balança separada. Alguns são excelentes para simplesmente entrar em uma partida e se divertir. Sejam eles “PEAK”, “Deep Rock Galactic”, dentre outros. Alguns requerem um pouco mais de coordenação, como “Borderlands 3”. Os três citados ficam em um lado da balança, e se eu fosse colocar “Wildgate” (Steam / PlayStation 5 / Xbox Series S/X) no outro lado, ele seria mais pesado do que o conjunto.
Basta poucos minutos para notar que o projeto da Moonshot Games é ambicioso. Um tutorial extenso aborda as diversas funções que um jogador pode, ou vai, ter que realizar ao longo de uma partida.
Essas funções são, mas não estão limitadas a: controlar a nave, redirecionar energia para escudos ou armas, manejar as armas, consertar possíveis danos causados por acidentes ou bombardeios inimigos, coleta de relíquias, reviver outros jogadores, e por aí vai.
Faz um bom tempo que eu não fiquei tão mentalmente sobrecarregado só de completar um tutorial. “Pera, Wildgate realmente espera que eu faça e tenha memória disso tudo?”. Caros leitores, a resposta é: sim, ao menos em partes.

Claro que você não vai estar sozinho nessa jogada. Outros três jogadores vão estar do seu lado dividindo tais tarefas. Cada um com um personagem que tem habilidades passivas e especiais.
Por outro lado, outras quatro equipes de cinco jogadores vão estar sedentas para te eliminar. No centro disso tudo está um artefato — o objetivo principal de cada partida — e a equipe que conseguir obtê-lo e escapar pelo “Wildgate”, um portal intergaláctico, vence.
As pitadas de “extraction shooter” com um estilo de navegação e combate a là “Sea of Thieves” são notáveis na estrutura de “Wildgate”, mas ao contrário de tantos outros jogos que eu explorei com o mesmo estilo, a Moonshot Games consegue com maestria conectar esses tecidos sem que eles causem uma sensação de estranheza.
Cada início de partida tem um ar de “paz”. Você explora anomalias, estações destruídas ou campos de asteroides na esperança de encontrar um ou outro equipamento que possa melhorar a sua nave. Seja um escudo mais poderoso, uma relíquia que aumenta o dano das suas armas, ou um sistema de teletransporte raríssimo que permite você criar emboscadas. Esse é o melhor momento para você se aclimatar com a sua tripulação – isto é, se você não estiver jogando com pessoas que você conheça.

Como apontei antes, cada jogador assume o controle de um personagem com habilidades distintas. E quando digo distintas, eu digo de personagens que vão de especialistas em infiltração até aqueles que são “perfeitos” para ficar na nave, pilotá-la e proteger de invasores. É o tipo de sistema que parece feito para que um meta competitiva se forme com o tempo. Alguns personagens vão ser preferidos pela comunidade. Equipamentos específicos vão se tornar os favoritos para certos tipos de naves ou composições de equipe. Isso é, em partes inevitável e eu diria que até própria natureza de “Wildgate”.
O que me impressiona mesmo é que mesmo com a configuração mais “fraca”, por assim dizer, o jogo é assustadoramente divertido.
Pegue, por exemplo, o combate entre naves. Ele é surpreendentemente complexo; você precisa aprender as distâncias ideais de cada arma e quando atacar. Cada embarcação tem uma sensação diferente, desde as ágeis naves de reconhecimento que voam por campos de asteroides até os pesados e fortemente armados naves de guerra — de longe as minhas naves favoritas de pilotar.
Nas minhas primeiras partidas eu já avisava de cara “Seguinte, sou novato, não sei pilotar muito bem essa nave então me avisem caso eu esteja prestes a bater em um asteroide, ok?”. Incontáveis gritos de “Cuidado!” ou “Desacelera!” ecoavam nos meus fones. Bati a nave na carcaça de uma embarcação a deriva, perdi parte dos escudos e a parte inferior da nave começou a pegar chamas.

Larguei os controles da nave –garantindo que ela não acelerasse sem que alguém apertasse algum botão –, peguei um extintor de incêndio e toda a equipe correu para apagar as chamas.
Claro que rolaram algumas reclamações típico de um jogo multiplayer com pessoas desconhecidas (embora xingamentos foram raros), mas no fim todos estávamos rindo da situação ridícula. Quem não estava era uma nave inimiga, que viu a nossa situação e decidiu aproveitar a oportunidade para nos atacar.
Uma nave pode ser abordada a qualquer momento da partida, algumas são mais protegidas e seguras do que outras – tipicamente aquelas mais lentas – mas uma equipe bem coordenada consegue atacá-la até nos cinco minutos iniciais da partida.
Esse ataque nos pegou um tanto quanto desprevenidos, “Wildgate” praticamente se transforma em questão de segundos de um jogo onde você está explorando um setor da galáxia para batalhas claustrofóbicas onde você e a sua tripulação podem morrer em instantes, ter suas relíquias roubadas e armas roubadas.

Esse é o ponto que mais diferencia “Wildgate”. Se o trabalho em equipe para navegar uma simples nave já é muito, as situações caóticas que ocorrem quando alguém invade a sua nave ou você – inevitavelmente – vai ser obrigado a invadir uma nave inimiga, é praticamente triplicado.
Os microfones de todo os jogadores que faziam parte da minha equipe praticamente não desligavam. Uma hora estávamos tentando definir o alvo prioritário, outra hora estávamos apagando outro incêndio, pedindo para que alguém manejasse a nave para aumentar a distância entre a nossa nave e a nave oponente.
Eu não quero soar negativo, mas até nas situações mais “tranquilas” de combate, “Wildgate” é emocionalmente exaustivo. É como você tomar uma injeção de adrenalina e depois ter que se reorganizar mentalmente para compreender ou tentar bolar estratégias para o resto da partida. Não é aquele tipo de jogo que vai jogar noite adentro, é o que você vai realizar duas ou três partidas, e vai ter que dar uma pausa para respirar. E na atual conjuntura do jogo, é a melhor coisa que pode acontecer.
Por mais que eu adore as situações caóticas e o trabalho em equipe, “Wildgate” está um pouco “raso” em termos de variedade. Sete personagens, quatro naves, nove armas, relíquias de diferentes qualidades e poucos modificadores. Quando eu atingi a marca de 15h, eu senti que tinha visto “tudo” que o título provia para mim no momento. A própria Moonshot Games já está realizando ajustes para essas mecânicas e, durante a produção desta crítica, ela já implementou uma série de novos modificadores com outro conjunto vindo em breve.

Me preocupa igualmente o grau de complexidade que o título oferece. Se fosse um jogo solo, eu ia deitar e rolar nele até me cansar e passar muito mais das 15 horas de jogo. Não que eu tenha parado, eu vou planejo continuar a jogar “Wildgate”, mas quando você tem três outros jogadores com quem você precisa coordenar e ter uma afinidade muito maior do que a grande maioria dos jogos coop por aí, clicar no botão “encontrar partida” é apostar no desconhecido.
Tive partidas fantásticas, memoráveis, como uma que eu e a minha equipe conseguimos roubar uma relíquia nos minutos finais de uma partida e partir direto para o “Wildgate” com os escudos praticamente destruídos. Em outras, a equipe desconectou assim que fomos alvejados pelo primeiro salvo de uma nave inimiga.
Em termos de design, “Wildgate” é, de longe, um dos jogos coop mais interessantes que eu tive a oportunidade de jogar em 2025. Ele vai muito além da média em termos de complexidade e não se curva para aqueles que não estão interessados em entender os nuances dele.
Por outro lado, tenho receio que esse mesmo ethos da Moonshot Games o leve para o esquecimento ou “abandono”. Sei muito bem que, se for para escolher entre uma partida de “Deep Rock Galactic”, ou “Wildgate’, eu escolho o segundo. Agora, meus amigos? As pessoas com quem eu jogo normalmente? Provaelmente irão escolher a primeira opção.
Eu espero, torço, estou aqui com os dedos cruzados que a Moonshot continue a evoluir o título nos próximos meses e encontre mais formas de atrair uma comunidade saudável que o mantenha vivo. E, se você está cansado do mesmo estilo de jogo coop ou do “banquete” de extraction shooters militares, “Wildgate” é uma das melhores pedidas no momento — mesmo que tenha a sua própria gama de limitações.
Wildgate
Total - 9
9
“Wildgate” interliga conceitos de “extraction shooter”, partidas coop e um complexo sistema de naves e invasão de forma majestosa. Ele é caótico, complexo e recompensador. Não é o tipo de jogo que você vai “sacar” tudo em uma partida, mas se você estiver disposto a aprender, vai ter em mãos um dos jogos que eu considero mais divertido em 2025.