Eu acompanho a franquia Sonic de perto? Não muito. Jogo os títulos principais desde a era PlayStation 3 / Xbox 360 — que não são muitos — e admiro de longe. Deve ter sido esse o motivo pelo qual abri “Sonic Racing: CrossWorlds” (Steam / Xbox / PlayStation / Nintendo Switch). E me perguntei: “Quem… quem é Espio?”. Se você, como eu, não tem a menor ideia de quem é Espio, tenho boas notícias: isso não vai afetar nem um pouco a sua experiência com o novo jogo de corrida do ouriço azul.
Sem perder muito tempo com firulas ou introduções magnânimas, “Sonic Racing: CrossWorlds” já te “pergunta” de cara “você quer pilotar máquinas velozes? Irritar os seus amigos com itens, desbloquear novos veículos e pistas? Ótimo, aqui está a lista de grand prix, um modo “party” e online”. Com anos jogando outros títulos de corrida com uma pegada mais arcade, e que cada vez mais passam por uma transformação para um híbrido de mundo aberto ou completamente mundo aberto, é um tremendo alívio ver um onde eu simplesmente posso escolher o que eu quero.
Esse é um dos conceitos que carregam boa parte da minha apreciação por “Sonic Racing: CrossWorlds”. Se você quer algo, não precisa se descabelar ou ter que investigar 40 menus até achar o que você quer. Isso não quer dizer que o jogo não tenha alguns elementos “secretos” – mais sobre isso em breve.
Com a minha “ânsia” de já pular em uma corrida, fui direto para o modo “Grand Prix” – praticamente o carro-chefe quando se trata do modo single-player. Seis Grand Prix compostos por três pistas cada mostram que “Sonic Racing: CrossWorlds” é averso a mudanças muito drásticas no formato de “jogos de kart” tão bem estabelecido por títulos como “Mario Kart” ou até o próprio “Team Sonic Racing” ao longo das últimas décadas. No entanto, se as mudanças fora da pista são “poucas”, dentro dela é que o jogo da Sonic Team estabelece muito bem a sua identidade.

Piadas ou trocadilhos à parte, toda corrida – até no nível mais baixo – de “Sonic Racing: CrossWorlds” é rápida, assustadoramente rápida. Como alguém que passou os últimos meses jogando quase que exclusivamente “Mario Kart World” no que tange jogos arcade, a mudança de ritmo de “aqui está uma corrida ‘simples’ onde você tem que chegar até o final” para um jogo que praticamente grita “Vamos Lucas, três voltas, acelera, desliza, pega item, pega moeda, você está lento demais, vai, mais rápido!”, assusta.
A primeira corrida chegou a me deixar zonzo de tanta coisa acontecendo na tela. Quando eu não estava tentando aprender o layout da pista, estava sendo destruído por bombas, luvas de boxe voadoras, um maldito Chao que roubava os meus itens, e por aí vai.
Se isso não fosse o suficiente, CrossWorlds adiciona um “twist” que é o que dá nome ao game: a cada segunda volta, uma “fenda interdimensional” transporta todos os jogadores para uma pista “secundária”. O jogador que estiver em primeiro lugar tem a escolha entre duas fendas, e ele que define onde vai ser a próxima volta. A seleção varia de pista para pista, mas é um “solavanco” visual e de jogabilidade sair de uma pista “tradicional” para estar dirigindo um “barco” — já que todos os veículos se transformam em barcos e aviões — em meio a uma tempestade enquanto tentáculos jogam barris em você. Acho que dá para perceber que eu não cheguei em primeiro lugar, certo? Eu disse que “CrossWorlds” é simples, não fácil.
Os seus fiéis aliados para garantir o primeiro lugar vêm de duas frentes: Gadgets e veículos. Os Gadgets são habilidades passivas que vão de “comece a corrida com 30 argolas” e “diminua o tempo da carga de boost” até “aumente a chance de receber itens de ataque”. Já os veículos em si seguem o modelo “Poder”, “Velocidade”, “Aceleração”, “Boost” e “Manuseio”. Cada um pode ser personalizado com novas peças compradas com tíquetes – obtidos ao ganhar corridas ou completar objetivos aleatórios como “maior quantidade de argolas obtidas em uma corrida”.

Dizer que “Sonic Racing: CrossWorlds” tem uma variedade absurda de personalização é ser um tanto quanto conservador. Há anos que eu não vejo um jogo desse calibre com tanta opção – e a maioria delas viável para uma corrida. Praticamente cada parte do seu veículo pode ser ajustada – o que altera os atributos e o visual dele. Você pode combinar peças que aumentem o seu poder e o tornem menos propício a ser empurrado por outros veículos, mas ainda manter um bom controle dele na pista.
Foi nesse “remove” e “coloca” peça que eu encontrei o meu personagem favorito de “Sonic Racing: CrossWorlds”: Espio. Eu não sabia quem ele era, mas ele se sobressai em termos de manuseio, e o seu veículo inicial foi o que me ajudou a começar a vencer as corridas. Não piscava mais os olhos e estava em 10º lugar; agora dominava os outros corredores, pegava centenas de argolas e até escolhia algumas das pistas que apareciam nas “fendas interdimensionais”.
Por falar em pistas, o jogo dá um show à parte em termos de variedade e qualidade. Capturando praticamente todas as eras do Sonic, você vai de pistas que fazem menções a “Sonic Adventure 2”, temas remixados do primeiro Sonic, até pistas claramente moldadas pelas ilhas de “Sonic Frontiers”. Se eu disser que eu desgostei de duas ou três pistas, é muito. Todas acompanhadas de uma trilha sonora fantástica que alterna entre remixes de outros jogos da franquia como “I’m Here” e composições originais.
O que me chamou muitíssimo a atenção nelas é a quantidade de atalhos “secretos” que a Team Sonic colocou para o aspecto mais competitivo do jogo. Há dezenas de pequenos pulos, ou áreas que parecem “impossíveis” de serem utilizadas como atalho – como bancos de areia – mas que podem muito bem ser úteis caso você tenha a combinação correta de itens e gadgets. Agradeço até agora por ter um boost bem na hora que um oponente me jogou para a grama e eu praticamente cortei caminho com o boost. Quem acabou em primeiro lugar? Eu.

Esses atalhos secretos, junto com a excelente variedade de gadgets e veículos, gera tantas estratégias, mas tantas. que é quase impossível descobrir quem vai ser o vencedor. Eu agarrava o controle e fixava os olhos na tela até ver a linha de chegada. Essa sensação, para mim, é especial demais.
A minha única crítica para boa parte das pistas não diz respeito ao layout delas, mas sim da jogabilidade na água. A transição entre veículos terrestres e aquáticos pode ser dolorosa, especialmente quando a pista é repleta de curvas fechadas.
A pior delas é “Aqua Forest”, que te joga em um toboágua e, se você não ajustar o seu veículo a tempo, vai bater na parede repetidamente e perder posições. O problema é particularmente notável quando eu joguei o segundo grande componente de “Sonic Racing: CrossWorlds”: seu multiplayer.
Imagine o caos das corridas no modo “um jogador” multiplicado por 100. É mais ou menos assim que foram a maioria das minhas empreitadas no modo online do game.
Mesmo com pouco tempo desde o seu lançamento (e a confecção dessa crítica) a comunidade já encontrou dezenas de atalhos, combinação de gadgets que fazem total diferença de uma pista para outra, e eu luto para conseguir acompanhá-los.

As fases aquáticas eram, pelo que pude notar, as menos escolhidas. Acredito que muitos se sintam como eu e não gostam de como os veículos controlam na água. Some com o caos do multiplayer e você tem uma corrida que deixa de ser divertida para pura frustração.
Quando eu não estava me descabelando por uma pista “aquática”, estava apreciando as “playlists” de festival que a Sonic Team vem usando para o modo online. Tive a chance de participar do festival “Hatsune Miku” antes de concluir essa crítica, e todas as pistas receberam “regras especiais” e modos de equipe exclusivos. Em um deles, eu e outros dois jogadores tínhamos que, por exemplo, bater um nos outros para ganharmos boost de velocidade. Quanto mais boosts, maior a nossa pontuação.
Não ouso dizer que o online é perfeito, ao menos em termos de balanceamento. Afinal, nenhum modo online é. Sinto que há uma grande carência de itens de defesa e itens utilitários têm a sua duração relativamente curta em comparação com a quantidade de itens de ataque. Elementos que, acredito, devem ser ajustados pela Sonic Team à medida que o jogo evoluir e mais estratégias forem concebidas.
Quem tem “alergia” a modos online — e, acredite, tendo ciência do quão tóxicos alguns jogos podem ser, eu entendo — pode jogar uma “versão” local ou “sala privada” das playlists dos festivais no modo “Race Park”. Assumo que foi o que eu menos interagi por ausência de colegas para jogar junto. Cadê os meus fãs de Sonic?

Mais uma vez a Sonic Team se sobressai no tema personalização e variedade. Mesmo que você não tenha com quem jogar, há dezenas de desafios que liberam novos veículos, e a IA é competente nos modos de jogo em equipe. Eu destaco especialmente o modo “corrida personalizada” – algo raríssimo de se ver em jogos do gênero – onde você pode definir que tipos de itens podem surgir e quais pistas estão disponíveis.
Uma pena não conhecer mais pessoas interessadas em Sonic. Eu gargalhava comigo mesmo só com a ideia de criar uma corrida personalizada apenas com itens de ataque, a pista mais difícil com várias armadilhas, e escolher a versão reversa. Não sei se há amizade que aguente uma volta de “Sonic Racing: CrossWorlds” com essas regras.
Eu ainda acho curioso o quão entusiasmado, apaixonado e com vontade de continuar a jogar bem além do meu horário de dormir “Sonic Racing: CrossWorlds” me deixou. Normalmente sou um forte adepto de jogos mais voltados para simulação – embora tenha gostado de alguns raros jogos arcade como “Hot Wheels Unleashed” e o já citado “Mario Kart World”.
Com a promessa de mais Grand Prix, eventos e personagens nos próximos meses, eu não duvido de que eu irei mergulhar sabe lá quantas vezes em “Sonic Racing: CrossWorlds”. Ele vai muito além de um ótimo jogo de corrida, é um triunfo para fãs de Sonic. Até para aqueles que, como eu, não sabem quem é Espio.
Total - 9.5
9.5
Ótima seleção de pistas, modo Grand Prix robusto, personalização de corridas, veículos e gadgets, e um online que tem tudo para evoluir com novas estratégias e eventos. “Sonic Racing: CrossWorlds” é um triunfo para fãs de Sonic e, de longe, um dos melhores jogos de corrida arcade de 2025.