De tantas franquias que poderiam receber remasters, remakes, ou até reimaginações. A última que eu imaginava era “PAC-MAN”. Claro, o mundo conhece o clássico jogo de arcade; agora, as dezenas de spin-offs, jogos de plataforma e até jogos competitivos nos últimos 20 anos? Não muito. É deles que surgiu “Pac-Man World 2” em 2002 para o PlayStation 2. 23 anos depois ele retorna como “Pac-Man World 2: Re-Pac” (Steam / PlayStation / Xbox / Nintendo Switch), e é uma surpresa até para mim.
Confesso que eu joguei muitíssimo pouco do jogo original. Os meados dos anos 2000 da minha vida foram marcados por horas na frente de um computador com jogos de estratégia, shooters em primeira pessoa, e ocasional JRPG para PlayStation 2 (olá “Final Fantasy X”, “Final Fantasy X” e “Final Fantasy XII”). Nem me passava pela cabeça jogar algo de “Pac-Man”. Na época, para mim ele ainda era aquele jogo de arcade que ficou no “passado”.
A minha primeira interação com “Pac-Man World 2” só foi acontecer por volta de 2015, quando eu decidi investir um pouco mais tempo na franquia para conhecê-la e bati de frente com uma barreira gigante: o meu desinteresse na época por “collecathons”. Crescer em uma família relativamente privilegiada me fez ter acesso muito mais a jogos de PC do que me interessar por consoles. “Super Mario 64” quase que virou uma nota de rodapé na minha infância, e demorei anos para começar a apreciar “Banjo Kazooie”.
Quando foi a hora de tentar pela primeira vez “Pack Man World 2”, o resultado foi similar. “É chato, por que eu estou coletando essas moedas? Qual é a graça disso?”. Ainda bem que você cresce, amadurece e começa a apreciar cada vez mais como um conceito “simples” pode ser refrescante. E foi com essa mentalidade que comecei “Pac-Man World 2: Re-Pac”

A trama em si não poderia ser mais “direta” se tentasse. Os fantasmas invadiram a PAC-Village e roubaram todas as frutas douradas com a intenção de usá-las para libertar um fantasma rei chamado Spooky. Sem pensar duas vezes, Pac-Man vai ao resgate de tais frutas, que obviamente — como todo bom jogo de plataforma — foram espalhadas por diferentes mundos para fazer a jornada do protagonista ser o mais difícil possível.
Embora o conceito-base de “Pac-Man World 2: Re-Pac” já tem idade para tirar carteira de motorista, você jamais imaginaria. A desenvolvedora Now Production fez um trabalho espetacular em repaginar os visuais para a era atual ao ponto de que ele não está muito distante de um jogo de plataforma em 3D atual. Claro, há elementos que remetem a um jogo “clássico”, mas são pouquíssimos os jogos de plataforma ou collecathons que não tem um “pezinho” no passado — e falo isso da forma mais positiva possível.
Com mundos relativamente curtos, “Pac-Man World 2: Re-Pac” retém a simplicidade da história na jogabilidade. Em cada um deles você pode coletar frutas, bolas e moedas, e precisa derrotar inimigos para chegar no final da fase. O que me chamou a atenção foi o quanto a Now Production aprimorou o kit básico de movimentação do personagem.
Tal como no antecessor, você pode pular, quicar, acelerar para virar uma bola ou comer um item especial para se transformar na versão “clássica” do Pac-Man. No entanto, todas essas ações agora possuem um “feedback” tanto visual como tátil – caso jogue no controle – incrivelmente satisfatório. Já na primeira fase eu fiquei impressionado quando eu me transformei em um Pac-Man gigante e saí comendo fantasmas. Cada fantasminha destruído era uma vibração diferente, cada pedra quebrada, uma reação mais intensa.

É essa jogabilidade que carrega boa parte do jogo, pois os mundos em si têm um visual um tanto quanto genéricos. De florestas que você já viu em dezenas de outros títulos, uma região gélida e a típica “fase da água”. Em contrapartida, a grande maioria deles faz um ótimo uso de verticalidade com plataformas, trampolins e dezenas de segredos bem escondidos. Afinal, o que seria um “collectathon” se você não parar para caçar segredos?
Para a minha grande surpresa, o que mais me atraiu em “Pac-Man World 2: Re-Pac” foram os seus chefões. Não só pela variedade de estilos – de urso gigantes de metal a sapos enormes –, eles são realmente desafiadores ao ponto de requererem que você use todo o arsenal de movimentos do personagem para conseguir derrotá-los. Padrões de ataque inusitados são a regra ao invés da exceção, e elementos como revidar projéteis e outros nuances estão sempre presentes.
É uma boa mudança de ritmo em comparação a outros “collectathons”. O último jogo em que vi isso de maneira relativamente prazerosa foi “Demon’s Turf”. Só mostra o quanto “Pac-Man World 2: Re-Pac” estava à frente do seu tempo neste departamento.
Mas o que selou a minha apreciação pelo trabalho da Now Production foi a quantidade de conteúdo extra – a maioria de qualidade – que ela adicionou no pós-game de “Pac-Man World 2: Re-Pac”.

Sendo a pessoa teimosa que sou, eu decidi jogar o original pelo menos uma vez antes da confecção dessa crítica. E ele envelheceu muito bem, diga-se de passagem. Mas eu não tinha a menor ideia do quanto “Pac-Man World 2: Re-Pac” adicionava a mais.
Todo o conteúdo base da vila – agora transformada em um mini hub com personagens dublados, incluindo em português do Brasil –, está presente. Sejam eles os mapas no estilo clássico de arcade que você libera ao encontrar naves Galaxian, a músicas que são liberadas à medida que você avança na história. Infelizmente uma versão “clássica” de jogos como “Pac-Attack” e “Ms. Pac-Man” não foram incluídos no remake. Ao invés disso a desenvolvedora abarrotou o jogo de figuras que podem ser coletadas em troca de moedas e roupas.
Como alguém que não tem muito interesse em roupas ou figuras, esse é o ponto mais fraco de “Pac-Man World 2: Re-Pac”. É até divertido ver o personagem com roupas extravagantes ou inusitadas, mas a não ser que você seja alguém que esteja realmente interessado obter 100% de tudo do jogo, as chances de você usá-las mais de uma vez são minúsculas.
O que me pegou de surpresa mesmo foram as novas fases adicionais após você derrotar o chefão final. Aliás, ao contrário do original, há muito para explorar após terminar o game. As fases em si são as mais desafiadoras do game e requerem muito mais precisão do que qualquer uma antes delas. Só lamento que a Now Production não aproveitou a oportunidade para aprimorá-las com um visual mais refinado em comparação com as originais, e elas acabam mantendo o tom “genérico” do restante do jogo.

Apesar dos “pesares”, “Pac-Man World 2: Re-Pac” faz justamente o que eu gostaria que a maioria dos remasters / remakes fizessem, abrissem uma nova porta para as pessoas conhecerem jogos que podem não ter sido um grande sucesso ou acabaram se tornando “clássicos” na comunidade.
Se não fosse por ele, eu provavelmente sequer teria voltado atrás e jogado o original. Em um mundo perfeito, a versão de PlayStation 2 ou Gamecube do game estaria inclusa – tal como foi feito pela Square Enix em “Final Fantasy Tactis –, o que vejo como “essencial” em remakes. Mas os louros vão para a Now Production, e a Bandai Namco que pegaram um jogo que muito bem poderia ter sido “esquecido” e abriram a porta para eu apreciá-lo. Quem sabe eu não esteja entrando na minha era “collectathon”? São ótimos games para relaxar após um dia longo.
Pac-Man World 2: Re-Pac
Total - 8.5
8.5
A Now Production melhora “Pac-Man World 2: Re-Pac” onde é preciso, e retém a jogabilidade primorosa que envelheceu muito bem do original. Os novos visuais são ótimos, apesar das fases — incluindo as exclusivas para o remake — trazerem um ar “genérico”. Uma pena que muitos extras foram removidos e trocados por roupas ou figuras que são bem menos empolgantes de coletar; a ausência do jogo original no pacote seria uma ótima adição.