Quando eu pego um jogo de estratégia para escrever, a primeira pergunta que me vem à mente é: “Quem vai ter interesse em jogá-lo?”. Franquias como “Age of Empires” vão certamente agradar fãs de construção e turtling. “Company of Heroes” deita e rola no conceito de táticas e uso de flancos. “Empire of the Ants” (Steam / PlayStation 5 / Xbox Series S/X)? Eu não tenho uma resposta concreta.
Parte remake, parte reimaginação, parte “visualizador de belos cenários”, “Empire of the Ants” é um jogo… peculiar. O original de 2000 se destacou no gênero não só por se inspirar nos livros de Bernard Werber – que preciso deixar claro que não li – mas por permitir que você controlasse um exército de formigas em uma era onde a maioria dos jogos de estratégia eram quase que exclusivamente voltados para a era medieval, Segunda Guerra Mundial e ficção científica.
Em 2024 o mundo de estratégia mudou bastante. Cada vez mais desenvolvedores independentes estão vindo com conceitos inesperados e destilando o elemento de estratégia e táticas em mais diferentes sistemas. Você pode ir de um jogo focado em logística como “Unity of Command 2” – que também atua como uma excelente porta de entrada para o universo dos Wargames – para estabelecer zonas de defesa em “Infection Free Zone” em um piscar de olhos.
A desenvolvedora Tower Five está mais do que ciente disso, e para “Empire of the Ants” ela toma a abordagem mais inusitada possível: um jogo em terceira pessoa. Funciona, em partes.
O principal atrativo de “Empire of the Ants” são certamente os seus visuais. A Unreal Engine 5 está fazendo um trabalho pesadíssimo em demonstrar cenários naturais e incríveis detalhes para as formigas e os mais diferentes insetos que você vai encontrar ao longo da campanha de 20h ou mais dependendo do quanto você quiser explorar.
Se o termo “explorar” soa estranho para um jogo de estratégia, é justamente o ponto de “Empire of the Ants”. Ao invés de você ter a estrutura Missão -> cinemática -> missão ou um mapa, a Tower Five te coloca no controle de uma única formiguinha que, seja pelo destino ou por algum fator maior do que todos nós, é encarregado de encontrar fontes de alimento ou explorar regiões para garantir que não há ameaças ao seu formigueiro.
Acaba que você vai gastar uma boa parcela de tempo em “Empire of the Ants” o tratando quase como um jogo de plataforma. Várias missões são voltadas exclusivamente para o reconhecimento de território e encontrar novos alimentos ou seres. O conceito é muito divertido em teoria, mas na prática é dolorosamente entediante.
Parte do problema vem do terrível controle da sua formiga, a Tower Five tentou inserir elementos de plataforma que não funcionam seja no mouse / teclado ou no controle. Eu lutei para tentar subir em certos galhos só para identificar uma fruta. Em outros momentos eu tinha que chegar em um local elevado como pedras e o jogo simplesmente não permitia a não ser que eu apertasse o botão de pular continuamente até que uma hora a minha formiga “grudasse” na pedra.
A situação piora por conta de os mapas serem desnecessariamente grandes só para completar um ou dois objetivos que avançam a história. Talvez se eu tivesse um maior investimento emocional nos livros de Bernard Werber eu ficasse investido com a recriação dos cenários. Mas, para mim eles não passavam de áreas bonitas onde eu tinha que fazer um objetivo, voltar e falar com uma formiga para aí sim partir para a ação.
Quando você chega na ação em si, “Empire of the Ants” faz um trabalho ótimo no âmbito visual. É fascinante ver uma horda de formigas partir para cima da outra e entrarem em confronto. Mudanças no nível do terreno são cruciais para vencer certos embates e o sistema de construção é supreendentemente intuitivo para iniciantes ou veteranos de estratégia.
Mais uma vez a Tower Five acerta na teoria de criar um jogo de estratégia cativante. Você possui uma variada seleção de formigas – uma frase que eu não imaginaria escrever na minha vida – uma série de habilidades passivas e ativas que fazem com que cada uma cumpra um papel específico no campo de batalha.
Outro conceito que a desenvolvedora acerta em cheio é a “distância” dos ninhos. Perder uma unidade no campo de batalha significa que ela precisa “ressuscitar” do seu ninho, você precisa ter alimento necessário e ela ainda demora para chegar até o campo de batalha. Neste ponto os mapas gigantes cumprem muito bem o seu papel de teoricamente gerar tensão ao você perder uma das suas tropas e ter que pensar de forma tática em como manter a sua linha de frente até a chegada de reforços.
Eu digo em teoria pois a IA do modo campanha é tão assustadoramente ruim que você não vai ter dificuldade alguma de sobreviver a qualquer investida do inimigo. Boa parte das missões envolvem destruir um ou mais ninhos de outras formigas e a melhor tática é simplesmente ir direto aos ninhos. A IA não recua, não faz nada a não ser continuar a te atacar. Se não fosse pelas missões com objetivos especiais como proteger e escoltar um alimento – surpreendentemente divertidas por sinal –, eu ia achar que o modo campanha de “Empire of the Ants” é um “tower defense” de tão entediante que é o combate.
Ao menos posso dizer que controlar as unidades, ao contrário do modo de exploração, é intuitivo e um dos grandes acertos da Tower Five. Há uma naturalidade em “apontar” e direcionar as unidades que até jogos mais complexos tem dificuldade em implementar. Se não fosse pela IA terrível da campanha, “Empire of the Ants” tem o potencial de ser um micro “Total War” com formigas.
O mais irônico de tudo é que este comportamento não é visto no modo multiplayer quando a IA está no mesmo time que você ou em partidas contra ela. Eu não sei o motivo da Tower Five ter facilitado tanto o modo campanha ao ponto de o tornar entediante. Se a razão for “Mas também está disponível nos consoles”, eu posso listar jogos igualmente ou mais complexos que tem uma comunidade no console.
E, para um jogo cuja única funcionalidade que de fato, bem, funciona na prática é o modo batalha, “Empire of the Ants” oferece pouca variedade em modos e mapas. Eu não nego que eu adorei alguns conflitos e ver dezenas de formiga caindo morro abaixo nunca deixa de ser engraçado, mas não existe longevidade a não ser que você consiga convencer outra pessoa a realizar partidas com você, ou é terrivelmente apaixonado por insetos.
Eu ainda não tenho uma resposta concreta para quem é “Empire of the Ants”. A Tower Five tentou encontrar um meio termo entre fazer algo “similar” a “Pikmin” mas com visuais realistas e um jogo de estratégia e acabou com uma campanha sem sal. O modo batalha, onde a tática e as diferentes formigas de fato brilham, é restrito demais para o seu próprio bem.
Pode ser que venham umas atualizações pelo caminho e ao menos melhorem a IA da campanha, mas toda vez que eu penso em voltar para “Empire of the Ants”, eu lembro que eu tenho “Empires of the Undergrowth” e este sim é um jogo de estratégia que vale investir tempo na campanha.
Empire of the Ants
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“Empire of the Ants” entende o conceito, mas não consegue aplicá-lo. Um jogo sobre defender um formigueiro, atacar inimigos e buscar alimento não precisa de uma narrativa tão arrastada. Os melhores momentos acabam limitados a um modo de batalha graças a falta de desafio na campanha. Pode ser que a Tower Five melhore o jogo no futuro, mas há opções melhores para quem quer controlar um exército de formigas. Ao menos as formigas e os cenários são bonitos.