Do que um museu é composto? Há muitas respostas para essa pergunta, afinal, há diferentes tipos de museu pelo mundo. Mas, para a equipe da Two Point Studios, um museu pode ser praticamente qualquer coisa desde que ele mantenha o conceito base: Preservação. É uma resposta que me agrada? Não muito, mas se encaixa na proposta do mais novo DLC de “Two Point Museum”, “Zooseum” (Steam / PlayStation 5 / Xbox Series S/X).
Não é nenhum segredo que a desenvolvedora já vinha explorando outros conceitos de “museus” após o lançamento do game, com a primeira expansão “Fantasy Finds” (crítica) adicionando leve mecânicas de RPGs para os seus funcionários e expedições que requeriam mais investimento – tanto em termos materiais quanto financeiros. Todavia, é “Zooseum” e o cenário “Parque Silverbottom” que realmente mostra a flexibilidade da estrutura base de “Two Point Museum”.
Indo na direção contrária do modus operandi até então de “Two Point Museum”, no qual a desenvolvedora praticamente havia estacionado no “menos é mais”, O DLC vem recheado de animais, itens decorativos, novos tipos de expedições – um número que eu jamais imaginava ver de um DLC da desenvolvedora.
A mudança de um sistema de museus para a criação de um “santuário de animais” é quase natural. Eu não falo isso para parecer que a desenvolvedora fez com desleixo; “Two Point Museum” já possuía mecânicas relacionadas a animais com os museus de preservação de vida aquática. O que “Zooseum” faz é pegar uma parte dessas mecânicas e expandi-las consideravelmente.

Digo “quase natural”, pois, antes de você começar o DLC você vai ter que se preparar um pouco para ler uma boa dose de tutoriais sobre as novas mecânicas. A desenvolvedora já havia feito isso em “Fantasy Finds”, mas se nele ela parecia um pouco “apressada” em fazer você aprender tudo o mais rápido possível, “Zooseum” tem uma cadência mais leve, de fato focada em fazer com que você entenda cada mecânica e aspecto crucial para construir e gerenciar um santuário de animais ao invés de te fazer chegar nas duas (das cinco) estrelas — número mínimo para determinar que um cenário está “concluído”.
A mais impactante delas é o sistema de habitats – até então exclusivo para o DLC. Cada animal ou categoria de animais precisa de um habitat com as suas necessidades específicas. Os habitats maiores são o equivalente das gigantescas salas de exposição dos museus. Já habitats menores, como terrários, são feitos dentro da oficina do seu museu. Ambos ocupam um espaço considerável, e podem gerar dores de cabeça – mais sobre isto em breve.
Outra vez a desenvolvedora dá um show no que tange a personalização. A quantidade de itens decorativos e até mesmo o layout dos habitats de grande porte supera, e muito, qualquer outro DLC desenvolvido pela equipe até então. Acredito que eu passei a maior parte do meu tempo em “Zooseum” garantindo que cada um dos habitats tivesse a sua própria identidade visual. Isto é, quando eu não estava desesperado por ter colocado dois animais que supostamente iriam se dar bem e, vamos dizer que uma amizade não floresceu do convívio em conjunto.
Muito como ocorre com os peixes do jogo base de “Two Point Museum”, herbívoros requerem um grau extra de atenção, enquanto carnívoros tendem a ser um pouco mais territoriais do que eu esperava. E este é igualmente um dos pontos mais fortes, e mais conflitantes para mim de “Zooseum”.

Eu não esperava que o DLC magicamente transformasse “Two Point Museum” em algo similar a “Planet Zoo” da Frontier. Seria uma completa falta de noção da minha parte. Por outro lado, há uma falta de desafio no que tange a administração dos animais. Raramente tive que me preocupar se um animal estava muito descontente ou se o habitat não estava 100% adequado a ele assim que peguei o jeito de como separá-los.
Houve muitos momentos da minha partida em que eu senti que os animais não passavam de “peças de museu” que andavam e respiravam. Algo que eu jamais gostaria de ter em um DLC sobre criar um santuário de animais. Isso também é impactado pelo próprio humor de “Two Point Museum”, que trata tudo com leveza – e vejo como uma oportunidade perdida de explicar um pouco mais sobre a situação de cada animal presente no jogo. Não precisa colocar uma montanha de texto, mas apenas fatos interessantes sobre a vida deles no mundo real já me bastava.
Claro que há a “variante” de que eu investi horas e mais horas não só em “Two Point Museum”, como dezenas de outros jogos de gerenciamento que envolviam animais. Seja o já citado “Planet Zoo”, em “Megaquarium”, e “Apico”. Os dois últimos, com mecânicas muito mais complexas do que a Two Point Studios tende a fazer.
Por consequência, eu sabia “de cabeça” como evitar a maioria das “armadilhas” que poderiam ocorrer ao instalar um habitat. Eu não seria desastrado ao ponto de colocar um panda do lado de uma girafa, por exemplo. Como eu falei acima, houve de fato momentos que alguns animais que eu imaginei que iriam se dar super bem em um habitat, como uma zebra e uma girafa, simplesmente detestaram estar juntas.

Todavia, eu sei que a Two Point Studios tem o potencial de tornar “Two Point Museum” mais desafiador, o museu de fantasmas de Wailon Lodge é um excelente exemplo de um cenário desafiador, mas que era controlável. com a quantidade certas de especialistas e rotação de funcionários. Em Silverbottom a maioria dos meus especialistas foram mais usados para a manutenção dos habitats e para serem jogados nas expedições do DLC.
Por falar nelas, pode se preparar para quase falir na tentativa de resgatar um animal. O custo financeiro, material, e de especialistas faz com que o Silverbottom seja um dos “museus” mais difíceis de se manter no verde. Por outro lado, assim que você resgata um animal, você não precisa realizar a expedição novamente para obter o mesmo da espécie, mas sim utilizar pontos de conservação – obtido pelo bem-estar dos animais – para resgatar outro.
É uma ótima jogada tendo em vista o alto número de animais, mas a própria natureza das expedições em si, que até no jogo base tinham um aspecto bastante repetitivo. Tanto que a própria desenvolvedora repaginou o sistema em uma atualização anterior.
Agora, se tem uma coisa que a Two Point Studios entregou, e entregou com qualidade, são as novas mecânicas de cruzar animais. A quantidade de traços específicos para cada espécie é, simplesmente, enorme. E se você quer dar a melhor vida possível para esses animais, vai ter que garantir que os melhores traços sejam levados para frente nas próximas gerações.

Tudo bem que é um sistema bastante “gamificado” quando o assunto é preservação de animais, mas se adequa em “Two Point Museum” pelo fato que é uma camada extra de atenção que você precisa ter na hora de colocar machos e fêmeas em habitats. Nem sempre eles vão estar interessados em cruzar, e certos traços fazem com que alguns deles não encontrem um parceiro ou uma parceira.
É aqui que mora o maior “desafio”, se é que posso chamar disso, de “Zooseum”. Muito como na vida real, encontrar alguém com que você se identifique não é fácil. São traços em cima de traços e muitos minutos de micro gerenciamento. Para alguns, entediante, para mim, um paraíso.
E para mim, é isso que engloba não só “Zooseum” com “Two Point Museum” no geral: o prazer de gerenciar. Gerenciar um pouquinho aqui, um tantinho acolá, mas ter o controle – e o ocasional descontrole – de um museu. Seja este um museu tradicional, uma casa mal-assombrada ou um santuário de animais.

Embora eu tenha as minhas críticas acerca da falta de dificuldade para alguém que já tem mais experiência em jogos de gerenciamento – que creio estarem muito bem documentadas acima – é impossível negar que o meu tempo com “Zooseum” foi nada mais, nada menos, do que fantástico. Repito o que eu disse na minha crítica de “Two Point Museum”. A Two Point Studios cresceu, e muito como desenvolvedora, e agora ela está cada vez mais colhendo os frutos.
E, se o DLC estiver preparando terreno para um possível “Zoo Tycoon” da Two Point Studios, eu vejo um terreno que está ficando cada vez mais fértil. Novamente, mal posso esperar o que a desenvolvedora planeja para o seu futuro.
Two Point Museum - Zooseum
Total - 8.5
8.5
Embora careça dificuldade para quem já está mais do que acostumado a jogos de gerenciamento, “Two Point Museum – Zooseum” é mais um ótimo DLC para um título que só cresceu ao longo do ano. O novo sistema de habitat traz uma fantástica personalização, a quantidade de animais — e seus diferentes traços — é estonteante sem prejudicar a qualidade. Essencial para qualquer fã do game ou para aqueles que querem passar mais tempo ao lado do que eu considero um dos melhores jogos de 2025.

