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Análise – The Alters

Lucas Moura por Lucas Moura
20 de junho de 2025
em Análises, Slider
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Eu tenho uma mania horrível de ruminar pensamentos. “E se eu tivesse feito algo diferente naquele ponto da minha vida?” ou “Será que valeu a pena o esforço?”. Recebo “broncas” de pessoas próximas a mim por muitas vezes mergulhar fundo demais nessas ideias inacabadas. Gostaria muito de ver como seria a reação delas se jogassem “The Alters” (Steam / Playstation 5 / Xbox Series S e X).

O novo título da 11 Bit Studios te coloca na pele de Jan Dolski, parte de uma tripulação enviada para os confins do espaço. O destino é um planeta remoto prestes a ser consumido pelo seu sol, mas com a promessa de ter um componente misterioso que pode “salvar” a humanidade: “Rapidium”. Como em qualquer boa aventura de ficção científica, Dolski é o único sobrevivente.

Já nos momentos iniciais a 11 Bit Studios mostra uma maior maturidade, por assim dizer, em criar narrativas. Enquanto “This War of Mine” e “Frostpunk” estabelecem o seu mundo relativamente rápido, “The Alters” traz mais perguntas do que respostas.

Jan acorda em uma praia desconhecida, em um planeta mais desconhecido ainda. À medida em que ele navega pelo terreno acidentado, desviando de rochas e escalando penhascos, ele começa a encontrar o restante da tripulação. E estão todos mortos, em circunstâncias extremamente peculiares: os seus módulos de aterrissagem estão intactos, mas nenhum deles sobreviveu. Não há uma explicação clara – ao menos não de início.

As perguntas só se amplificam quando Jan chega à estação móvel que ele e o resto da tripulação deveriam manejar. A melhor forma que posso descrevê-la é como uma roda gigante com múltiplos módulos, de longe uma das estruturas mais peculiares que vi em um jogo de ficção científica. Estava em partes empolgado e um pouco aterrorizado pelo que me esperava dentro dela.

The Alters
O local que eu chamaria de “casa” pelas próximas horas.

Trabalho, muito trabalho e tensão. Era o que esperava.

“The Alters” deixa claro na primeira hora de jogo que se Jan quer sair daquele planeta vivo, ele precisa cruzá-lo até o ponto onde a suposta equipe de resgate irá pousar. Ele não pode – e de fato, não tem — como fazer isto sozinho. A solução? Criar clones de si mesmo.

Embora o processo seja claramente enraizado na mais pura ficção científica, com jargões que nem eu consigo me lembrar direito de tão confusos, a 11 Bit Studios se foca no que é importante. Eles são mais do que meros trabalhadores “adicionais” que você tem a sua disposição. São outras versões de você. Versões que tomaram rumos diferentes, decisões diferentes ao longo da vida e, de alguma forma, possuem memórias próprias.

Eu não “comprei” muito bem a ideia de início. Menos de uma hora de jogo e um clone meu já chegou “botando o dedo na minha cara” e apontando os meus erros como se eu fosse o culpado pelo que aconteceu na vida dele? Por que daria ouvidos a isso? Eu só não dei uma resposta mais atravessada porque o jogo não me permitiu. Além do que, não havia tempo. A estação estava prestes a ser engolida por raios solares que iriam quebrar o escudo radioativo dela e tanto eu quanto meu clone iríamos morrer.

“The Alters” não hesita em te pressionar. Um segundo na vida real é um minuto no jogo e cada minuto te deixa mais perto da morte. Cada dia que passa significa que o sol está cada vez mais próximo. Você tem um período limitadíssimo para coletar recursos, fabricar materiais e expandir a sua base.

Outra vez a experiência da 11 Bit Studios em games como “Frostpunk” vem à tona. “The Alters” é dividido em dois momentos distintos: a exploração e coleta de recursos fora da sua base, e a fabricação de materiais e interação com os seus clones dentro dela. Em momento algum um sistema sobrepõe o outro.

The Alters
É bom se acostumar com trabalho pesado, ou você obtém recursos, ou você morre.

Mas antes volto para a pergunta: por que eu daria ouvidos ao meu clone? Pois, apesar das diferenças, de termos tomado caminhos diferentes, precisávamos trabalhar em conjunto. E, independente de ser um clone ou não, lidar com pessoas sempre é difícil.

O jogo chega a te dar uma guiada “básica” de como apaziguar ou reduzir possíveis crises com um clone. No caso do meu primeiro – o técnico – nós nos “unimos” pelo que tínhamos em comum: a nossa mãe. As nossas lembranças eram claramente diferentes, mas no fundo, ainda era a nossa mãe. Conversamos sobre a comida favorita dela, de como cuidamos dela quando ela estava doente.

Pouco a pouco ganhamos a confiança um do outro e começamos a dividir as tarefas da base. Eu ia para o extrator de metais, ele coletava materiais orgânicos e reparava as áreas da estação que falhavam.

A parte de extração é uma com a qual você vai ter que se acostumar a fazer, já que, como mencionei, é a segunda camada de “The Alters”. Todo dia você precisa sair da sua estação, procurar depósitos de minério, materiais orgânicos ou “Rapidium” – elemento usado para a criação de clones ou módulos para a sua base – e minerá-los.

A 11 Bit Studios se esforça para fazer esse processo o menos doloroso possível. Os materiais são transportados automaticamente para a base e até o próprio processo de extração é “acelerado” – tanto fisicamente quanto visualmente. Isso gera pequenas dores de cabeça mais para o final da jornada, mas, por ora, eu estava feliz com o ritmo em que eu e meu técnico estávamos interagindo. Era um ritmo pacífico, tranquilo. Um que eu sabia que não ia durar muito — afinal, estávamos prestes a ser engolidos por raios solares.

Interação com os seus clones traz momentos de intensa tensão, mas também de muita emoção e laços de amizade.

O primeiro empecilho que encontrei foi um gigantesco rio de lava que impedia a passagem da estação. Precisávamos de um cientista para encontrar uma solução – ou seja, de um outro clone. Um outro clone significa uma nova pessoa na estação, trazendo não só a possibilidade de criar tensão, como também um consumo ainda maior de recursos.

Não tardou para que o técnico e cientista demonstrassem pontos de vista diferentes. Um querendo “relaxar” após um dia longo de mineração, o outro – teimoso até dizer “chega” – o repreendendo por não dar atenção suficiente à missão.

Os dias passavam, a coleta de recursos continuava, novos recursos surgiam, eu tinha que expandir a base, construir dormitórios, garantir um fluxo de alimentos. Mais clones, mais diálogos, mais momentos de tensão.

“The Alters” é o mais puro equilíbrio na ponta de faca. Um dia está tudo correndo bem, no outro o computador quântico da nave está quebrado, você está ficando sem comida. Você precisa de metais para fabricar novos equipamentos, porque precisa romper uma parede de rocha e precisa construir uma broca para minerar o minério do outro lado. Dois dos seus clones de tripulação estão discutindo e um deles te odeia porque você tomou uma decisão que ele não gostou.

“Não dá para agradar todo mundo”, é o que me dizem. Mas e se eu quiser? E se eu sentir essa necessidade? “The Alters” reforça o primeiro ponto. Em inúmeros momentos a minha vontade era de enfiar a minha cabeça entre as pernas e não escutar o que estava ao meu redor. Fingir que eu não tinha problemas para resolver, ou esperar que eles se resolvessem sozinhos. Mas nada nesta vida se resolve sozinho, infelizmente.  A única forma, ao menos em “The Alters”, é o diálogo.

Laços que serão essenciais para gerenciar a estação, que pode ser reorganizada e expandida à medida em que você progride na história.

É aqui que mora o triunfo da 11 Bit Studios; o dinamismo que ela criou entre Jan e seus clones é fascinante, delicioso, e igualmente doloroso. Não foi só uma, duas, ou três vezes que eu não concordei com eles. Foram dezenas. Tentar agradar um muitas vezes significava irritar tantos outros.

Este ponto em específico é particularmente complicado para mim, alguém com uma terrível mania de querer agradar a todos. Como disse acima, “E se eu quiser agradar a todos”? Sempre tento encontrar uma solução mágica — quase que impossível — para um problema. Eu mergulho nesta ruminação ao ponto de me congelar. Isso é tão intrínseco de mim que até a própria produção de textos é afetada. Que parágrafo remover, qual parágrafo adicionar. Quando eu publico uma crítica – quando eu publico esta própria crítica. Estou fazendo a escolha certa? Qual é a escolha certa?

“The Alters” me colocou de frente com os meus próprios medos de uma forma que poucos jogos alcançam. Eu me senti muitas vezes na pele de Jan, vendo outros Lucas do passado, Lucas que talvez pudessem ter existido. Mas eu tomei outro rumo pessoal. E se eu muitas vezes me pego pensando o que “aquele” Lucas teria feito, você consegue imaginar o que este jogo fez em mim.

Eu terminava os dias de “The Alters” quase que na má vontade. Ligeiramente indisposto para começar o próximo. Fechei o jogo de pura raiva. Não do jogo em si, mas do que ele me fez sentir. Da ideia de confrontar outras versões de mim. Sabia muito bem que o título sequer ia mencionar o meu próprio nome ou o que eu passei, mas só a sensação de ter que revisitar outra vez – algo que já fiz em terapias passadas – me dava um nó na garganta. Um cansaço, uma vontade de não querer continuar com “The Alters”. Ele estava afetando, e muito, o meu emocional.

Mas também não posso apagar os momentos em que Jan e os seus clones se sentaram para assistir um filme, cozinharem juntos, jogarem “beer pong”. Atividades mundanas, mas que dentro do escopo do jogo, ajudam o protagonista e seus clones a deixarem as diferenças de lado e se unirem para superar as adversidades do planeta alienígena.

E os ambientes ficam ainda mais espetaculares visualmente. E mortais. Se você acha que estava tudo bem nessa imagem, acredite, não estava.

Essa perseverança e momentos de união também ajudam a mitigar os momentos mais “nauseantes”, por assim dizer, de “The Alters”. Embora a 11 Bit Studio acerte muito bem na dinâmica entre os clones, outros traços da trama – como o mistério sobre a corporação que enviou Jan para o planeta – caem um pouco demais nos estereótipos de ficção científica.

Além do que, eles são apresentados de forma muito fragmentada. Quase como uma “recompensa” por você avançar na trama do que uma situação natural, que é o que eu vi com a minha interação com os meus clones.

O próprio sistema de mineração de recursos também poderia muito bem receber alguns ajustes, já que acaba um tanto entediante nos atos finais. Ao invés da 11 Bit aumentar a complexidade com novos minerais ou novas formas, ela coloca anomalias e radiação.

Ambos os elementos fazem parte da trama, mas na hora de “sobreviver”, eles não amplificam a tensão fora da base, só aumentam o meu tempo de viagem entre ponto “A” e ponto “B”. Eu particularmente adorei a explicação sobre as anomalias e gostei de vê-las em ação no jogo por conta dos visuais, mas são previsíveis demais e “fáceis” de evitar.

Talvez a própria 11 Bit estivesse um pouco preocupada de deixar o jogo impiedoso demais. Levando em conta que as anomalias e a radiação só começam a se tornar uma real ameaça no final, eu já estava mais do que pronto para o que viesse. “Eu dou um jeito”, dizia. O que é uma anomalia para quem conseguiu repor o escudo de radiação da estação com menos de 24h para sobreviver, e com pouca comida?

Meras notas de rodapé para mim se comparado com o incrível feito que é “The Alters”. Não é um jogo sobre aprender a conviver com as diferenças, mas aceitar que elas existem. Esta aceitação – ou melhor – o processo de, é algo doloroso demais para mim. Mais que isto, que não há escolhas boas ou ruins, apenas escolhas e as suas devidas consequências.

“The Alters”, tal como outros títulos da 11 Bit Studios, não esconde que há muitos pontos em que nós seres humanos iremos divergir. Mas também temos muitos em que iremos convergir. Que viver dói, mas também há muita alegria. Tanta que vale a pena seguir em frente, dia após dia, e superar as maiores adversidades. Seja no planeta em que estamos, seja em um planeta desconhecido junto a clones de si mesmo.

The Alters

Total - 9.5

9.5

Conviver é difícil, a 11 Bit Studios sabe bem disso. A desenvolvedora explora de forma primorosa em “The Alters” a dificuldade de convívio, de como lidar ou não com as nossas diferenças. Não hesita em mostrar situações emocionalmente pesadas e perguntar quem somos ou quem poderíamos ser. Mas aponta que não há necessariamente o “certo” ou “errado” no que fizemos ou deixamos de fazer. Que o que podemos fazer é abraçar quem somos e tentar superar as adversidades, sejam quais forem. Emocionante, revigorante, essencial.

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Tags: 11 bit studiosanálisecríticanarrativaReviewrpgthe alters
Lucas Moura

Lucas Moura

Após trabalhar em revistas e sites como EGW e BABOO, Lucas fundou o Hu3BR pela sua paixão em jogos de estratégia, indies e a interconexão entre sistemas e emoções humanas.

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