Análise – Everybody’s Golf Hot Shots

“Eu ainda não acredito que isso é real” foi o que eu repeti desde o anúncio de “Everybody’s Golf Hot Shots” para PC, PlayStation 5 e Nintendo Switch. Uma franquia, até então exclusiva dos consoles da Sony se tornando multiplataforma. No entanto, a nova versão não estava vindo pelas mãos da Claphanz, mas da HYDE, Inc. Seria a nova desenvolvedora capaz de replicar o sucesso de décadas? A resposta é: sim, e não.

Ao contrário do foco demasiado em partidas online estabelecido por “Everybody’s Golf” para PlayStation 4, “Everybody’s Golf Hot Shots” é quase que um retorno as suas origens. Um menu com vários modos de jogo, um modo online opcional e a opção de jogar partidas locais. É impossível negar a sensação de que eu entrei em uma máquina do tempo e sem querer iniciei um jogo do começo da era PlayStation 3.

Tal sensação permanece até mesmo quando eu comecei uma nova partida. Em termos de mecânicas ele mantém todas as características clássicas da franquia. O bom e velho sistema de três cliques: tacada inicial, potência e precisão, funciona em grande parte de maneira similar aos jogos anteriores. O sistema de “simulação” de vento e como ele afeta a trajetória da bola é praticamente idêntico ao que foi desenvolvido pela Claphanz. E agora os caddies estão realmente presentes no campo ao invés de serem apenas vozes sem corpo.

Até então me parecia uma sequência um tanto quanto segura, afinal, por que mudar o que funciona tão bem? “Everybody’s Golf” sempre foi primoroso no que tange ser um jogo acessível e relativamente “arcade” para quem gosta de jogar umas partidas de golfe e relaxar. Mal eu sabia que a HYDE, Inc havia escondido uns segredinhos nefastos que vai deixar qualquer fã de longa data apaixonado ou furioso.

Pegar o controle e jogar ainda é fácil, terminar um torneio em primeiro lugar? Aí é outra história. O tão desejado troféu vai requerer um grau absurdo de precisão e conhecimento de cada campo – muito mais do que os títulos anteriores.

Uma das mudanças mais notáveis está no sistema de “spin”, que basicamente controla para onde você quer que a bola vá. Ele tende a ser usado para estender a distância, fazer com que a bola fique menos tempo no ar ou reduzir o impacto do vento na sua trajetória.

Nas versões anteriores, bastava você aplicar a quantidade que você desejava e acertar no mínimo dentro da marca vermelha de precisão. Em “Everybody’s Golf Hot Shots” você precisa ser 100% preciso para receber o efeito. Um milímetro fora da área de precisão e pode ter a mais absoluta certeza de que a sua bola vai na direção contrária, ou ser muito mais afetada pelo vento, do que você esperava.

A decisão tomada pela HYDE Inc. pode parecer absurda, mas abre espaço para explorar um elemento que até então era um tanto quanto “fraco” nos jogos anteriores: o estilo de golfe de cada personagem. Ainda que a franquia fosse recheada de golfistas – e até alguns convidados inusitados como Kat da franquia “Gravity Rush” na versão PlayStation VITA –, a maioria deles tinha atributos praticamente fixos. Não era incomum para mim, e tantos outros jogadores simplesmente escolhermos o “melhor” no geral e só jogarmos com ele.

“Everybody’s Golf Hot Shots” introduz elementos de progressão mais impactantes, como alimentos que aumentam a potência, o controle ou a precisão do seu golfista favorito. Tais alimentos – ao menos nas horas iniciais – são praticamente essenciais horas iniciais de jogo se você escolher um personagem que tem muita potência, mas pouco controle ou precisão de impacto da bola.

Eu gostaria ainda mais do sistema se o jogo não te limitasse a dois míseros personagens no começo, com o restante tendo que ser liberado por meio do modo “World Tour” ou progredir no modo “Challenge”. Em contrapartida, a variedade de tacos e bolas especiais compensam essa deficiência com uma seleção formidável que transforma cada torneio em uma batalha de como aplicar diferentes estratégias para diferentes buracos.

As minhas partidas em “Everybody’s Golf Hot Shots” se transformaram de um “relaxante jogo de golfe” para duelos intensos que não foram muito diferentes de “PGA TOUR 2K25”. Uma tacada errada, uma bola no bunker e a vontade era de fechar o jogo e não abrir por três meses. Mas, para mim, essa é essência de qualquer jogo de golfe. Você acerta, erra, acerta mais uma vez e tenta de tudo para garantir o pódio – por mais difícil que seja.

Imagino que, caso seja um jogador de longa data da franquia, esteja apavorado com a comparação com “PGA TOUR 2K25” – um título nem um pouco amigável para novatos. Mas “Everybody’s Golf Hot Shots” não vive só do modo “Challenge” ou “World Tour”, você pode jogá-lo das mais diferentes formas e ainda assim progredir o seu personagem.

O jogo retém os duelos tradicionais contra até quatro jogadores sejam eles controlados por outras pessoas ou pelo computador e você tem a total liberdade para escolher o campo, hora do dia, condições climáticas e adicionar regras especiais. Particularmente útil para mim, um masoquista que gosta de jogar na chuva com penalidades caso acerte um bunker ou deixe a bola cair em grama alta.

A diversão mais acessível a todos é, de longe, o “Wacky Golf”. Nele o jogo muda as regras a cada campo com uma regra mais “maluca” que a outra. Tornados podem aparecer no meio do campo ou próximo ao buraco, suas bolas de golfe podem explodir, ou uma manada pode passar no meio do campo e jogar a sua bola longe.

E não há como falar sobre “Everybody’s Golf Hot Shots” sem mencionar os campos em si. Encantadores como sempre, a nova versão traz um misto de novos campos e o retorno de alguns clássicos de versões anteriores. A maioria deles se focam em tacadas estratégicas e um bom conhecimento de onde a bola pode cair, e as armadilhas (bunkers, etc.) de cada um deles. Os campos produzidos pela HYDE, Inc. em si tomam um ar mais caótico, com muitas áreas que dificultam a visualização do horizonte e que parecem terem sido projetados primariamente para o modo “Wacky Golf” – isso não quer dizer que eles não funcionem nos modos tradicionais.

Não chego a dizer que é a minha seleção favorita de campos. Eu não sei se conseguiria listar os meus campos favoritos de um “Everybody’s Golf”, mas depois de jogar dezenas de horas da versão PlayStation 4, a seleção feita para “Everybody’s Golf Hot Shots” não decepciona nem um pouco.

Minha única crítica acerca deles é que, tal como outros jogos da franquia, a quantidade ainda é menor do que eu gostaria. As variantes de 6 e 9 buracos, ou o modo “aleatório” dão uma sobrevida a eles, mas para um jogo que tem não tem nada mais, nada menos do que, 30 personagens, eu esperava que a HYDE, Inc. finalmente solucionasse o “calcanhar de aquiles” que atormenta a série por décadas.

E, por falar em repetitividade, um dos maiores problemas que assombram o game no momento é repetição absurda de vozes dos personagens. Imagine jogar com alguém que fala “You can count on me!” a cada tacada, por 20 ou mais tacadas. Reduzi o som dos personagens para não enlouquecer (de vez), e torço que uma atualização aumente a variedade de falas, ou ao menos reduza a quantidade de vezes que eles falam durante uma partida.

Mas, para uma franquia que ficou praticamente adormecida por quase 10 anos, “Everybody’s Golf Hot Shots” é um retorno muitíssimo revigorante. A HYDE, Inc. se prova não só mais do que capaz de preencher a lacuna deixada pela Claphanz, mas faz com a ousadia de adicionar camadas de complexidade bem inesperadas para um projeto desse calibre.

Para alguém que viveu de “PGA TOUR” como a única opção de um jogo de golfe competente, “Everybody’s Golf Hot Shots” chegou em excelentíssima hora. Retém o estilo “coloque os pés para cima e aproveite uma partida de golfe”, mas traz elementos que veteranos como eu vão ficar obcecados pelos próximos dias, meses – e com certeza anos.

Bem-vindo de volta “Everybody’s Golf”. Senti falta de você.