De acordo com o meu “Steam Replay”, eu joguei mais de 800 jogos em 2025, sendo 80% deles publicados neste ano. Escrever qualquer lista com “jogos que merecem mais atenção” ou algo do tipo é uma tarefa praticamente impossível.
O ano foi recheado de lançamentos de qualidade, mas quanto mais eu olho para a minha biblioteca, mais eu sinto que eu não só deixei de escrever sobre, mas também vi muitos jogos passarem despercebidos — seja por fazerem parte de um gênero saturado, por serem “experimentais” demais, ou simplesmente por terem sido publicados em um mês em que um dia equivalia a 15 ou mais novos títulos.
Com isso em mente, essa lista foge um pouco do “tradicional”, mais ainda do que vocês normalmente veem no Hu3BR. Jogos de estratégia serão a exceção; é provável que você olhe para alguns e pense: “Pera, o Lucas joga isso?”. Eu jogo muita coisa — eu assisto muita coisa, eu leio muita coisa. O que eu de fato publiquei é apenas uma pequena porcentagem.
Nem todos os jogos irão ressoar com a grande maioria de vocês, eu não espero isso. O que eu espero é que ao menos alguém que leia dê oportunidade para pelo menos um deles. Nem que seja uma versão de demonstração. Só isso já me vai fazer feliz. Significa que alguém está disposto a ampliar os seus horizontes no que tange a o que são jogos, a maneira que eles podem se distinguir, tanto dentro de um gênero ou da forma que são apresentados.
Swordhaven: Iron Conspiracy

Chegando praticamente na reta final do ano, “Swordhaven: Iron Conspiracy” responde a pergunta de “como seria Baldur’s Gate ou Pillars of Eternity caso eles fossem criados por um grupo de fãs de Fallout”?
Embora o início seja um pouco lento, o sistema de combate primoroso e os diálogos ricos o sedimentam como um RPG que vai acabar aparecendo em listas de 2026. Isso sem contar a sua ambientação “tropical” fantástica e recheada de seres peculiares.
Microtopia

Jogos de automação explodiram desde que “Factorio” se tornou um gigantesco sucesso. Poucos, no entanto, oferecem a mesma liberdade que “Microtopia”. No comando de “formigas-robô”, você precisa coletar recursos, expandir a sua colônia e evitar poluição.
Ele entra na lista pelo seu fantástico sistema de “linhas de logística” livres, uma bênção para aqueles que detestam o sistema de grids que “Factorio” e outros do estilo definem como o “padrão”. De quebra, é um dos jogos de gerenciamento mais relaxantes que joguei este ano.
Zexion

Em um ano praticamente tomado por “Hollow Knight: Silksong”, os visuais de “Zexion” o fazem parecer “antiquado”. Não caia nessa história. A Gallant Leaf criou um metroidvania flexível, recompensador em termos de exploração, melhorias para o seu personagem e batalhas contra chefões marcantes.
Não vou mentir que ele é desafiador – em certas áreas, até mais do que o game da Team Cherry – mas se você estiver em busca de um jogo que mais se assemelha ao “Metroid” do NES, “Zexion” é o mais perto que vi este ano.
Alcyone: The Last City

Não existem utopias, e o misto de visual novel com RPG “Alcyone: The Last City” deixa isso bem claro nas suas primeiras horas. Humanos sempre irão discordar em algum ponto. Seja por questões de interesse, pré-conceitos, ou a ascensão de grupos de interesse que pensam que os “direitos” deles são mais importantes que os dos outros.
Embale isto em uma narrativa que envolve a suposta “última cidade da Terra” após um evento cataclísmico e o projeto de Joshua Meadows é um prato cheio para aqueles que gostam de interagir com personagens repletos de histórias para contar e uma cidade atípica. Perfeito para fãs de “Fallen London” e similares.
Deadeye Deepfake Simulacrum

Após anos em Early Access, “Deadeye Deepfake Simulacrum” chega mostrando que immersive sims podem ser qualquer coisa. Sejam eles em primeira pessoa, terceira pessoa, isométricos ou – no caso do título da nodayshalleraseyou – top down.
Infiltre complexos industriais, use ferramentas para acessar os sistemas dele, manipule o tempo, redirecione foguetes que os seus inimigos acabaram de disparar de volta para eles. A curva de aprendizado é altíssima, mas a recompensa em completar uma missão sem acionar um alarme é tão alta quanto.
Cipher Zero

Eu poderia preencher essa lista inteira com jogos de quebra-cabeça nos quais eu investi dezenas de horas em 2025. Céus, só “Blue Prince” ocuparia duas páginas, mas ao invés disso eu vou recomendar “CIPHER ZERO” da Zapdot pelo seu delicioso minimalismo.
Sem segurar a sua mão, a desenvolvedora cria e recria regras em cada quebra-cabeça, fazendo você pegar um papel para tentar decifrar qual vai ser a próxima “pegadinha” ou tentar encontrar um “padrão”. Eu terminei cada fase soltando um suspiro de alívio, e espero que você sinta o mesmo. Recomendadíssimo para fãs de jogos como “The Witness”.
Becoming Saint

Religião e jogos não são temas que combinam. Vi, ao longo dos anos, múltiplas tentativas de projetos que tentaram seguir um viés mais “sério”, demonstrar a evolução de uma religião ao longo de décadas – e as consequências. “Becoming Saint” vai na direção contrária e trata a religião, ou melhor, o ato de tentar se tornar um santo, com leveza e muito bom humor.
Ambientado em uma Itália do Séc XIV, o jogo de estratégia com elementos roguelike te coloca na missão de converter a maior quantidade possível de cidades para que todos lembrem o seu nome. Só não espere nenhuma tática convencional no título da Open Lab Games. Em uma cidade você batalhará contra monges, em outra haverá uma infestação de aranhas e um incêndio. Boa sorte, e espero que em alguma hora você seja santificado.
Break Arts III

Você jogou “Armored Core VI” e pensou “Eu gostei, mas eu sinto falta do estilo mais frenético de “Armored Core IV”? “Break Arts III” da MercuryStudio é o melhor remédio que posso te oferecer no momento.
Alternando entre um peculiar sistema de “corrida” e batalhas em arena, o nível de personalização do seu mech, a quantidade de armas e a variedade de builds faz os títulos da From Software sentirem inveja. De quebra, ele ainda tem um fantástico modo multiplayer – embora poucas pessoas joguem – e um excelente sistema de dioramas para quem gosta de colocar suas criações nas mais diferentes poses.
Many Nights a Whisper

Com 60 minutos de duração, “Many Nights a Whisper” é um triunfo da Deconstructeam que empacota toda a tensão de viver em sociedade, a posição de uma pessoa em um papel importante nela, e a criação de expectativas.
O que você faria se um disparo do seu estilingue definisse o futuro de uma geração? Se os sonhos delas fossem de fato realizados, ou sucumbissem ao esquecimento? Você treinaria, tentaria ouvir cada uma das pessoas, ou sucumbiria ao peso da responsabilidade? Emocionante do começo ao fim, e ao lado de “Essays on Empathy”, também da desenvolvedora, essencial.
Haneda Girl

Muitos sabem que eu sou um completo fanático por jogos com tabelas de liderança. Devo ter jogado pelo menos uma partida toda semana de “Top Dog”, mas quem acaba nessa lista mesmo é o excepcional “Haneda Girl”.
Atuando como em parte como um “prelúdio” para “Narita Boy” de 2021, “Haneda Girl” é sobre eliminar os seus oponentes com o máximo de eficácia no menor tempo possível. Você vai errar, vai falhar, vai morrer. E, quando conseguir completar uma região, não vai se sentir contente com uma medalha de bronze, e vai repetir o processo até aperfeiçoá-lo.
MIRO

Pegue a geração procedural de “No Man’s Sky”, remova parte do sistema de crafting e dê muito mais ênfase no aspecto narrativo e você acaba com “MIRO”. Isso não é uma crítica ao que a Lost Saved Data_ criou; é um extremo elogio.
Você sente falta de estar de fato em um planeta alienígena? Quer descobrir o segredo de civilizações antigas, o que aconteceu com elas, interagir com a fauna de uma forma não-destrutiva e ver o sol nascer criando cores belíssimas? Não hesite em pegá-lo.
A Pizza Delivery

Eu tenho uma regra essencial para a minha vida. Se eu quero me focar no “momento”, eu vou deixar o meu smartphone o mais longe possível de mim. Faço isso ao ir para a academia, quando vou ao mercado, e nas poucas vezes que saio para jantar. A minha sensação nos últimos 12 anos de site é a de que nós estamos perdendo cada vez mais o contato uns com os outros. Seja por conta da dependência da tecnologia, seja pela exaustão causada pelo capitalismo tardio. Esses são alguns dos pontos que “A Pizza Delivery” levanta como discussão.
O breve, mas maravilhoso projeto de Eric Osuna navega entre espaços surreais, personagens excêntricos e que nem sempre fazem muito sentido, salvo uma constante: O cansaço da rotina, a necessidade de conexão, de diálogo. E, esse diálogo pode às vezes ocorrer ao compartilhar uma simples fatia de pizza.
Wednesdays

Em 2010 eu colaborei em um projeto sobre violência doméstica e abuso. 15 anos depois e os relatos que coletei ainda me assombram. “Wednesdays” destila isso em uma incrível, emocionante, e dolorosa história de pouco mais de duas horas.
Como o próprio jogo diz, “A parte difícil não é falar, é ser ouvido”. As memórias ficam reprimidas, as pessoas duvidam da sua palavra, poucos querem lidar com uma situação tão “desagradável”. O jogo não vai gerar um pingo de dopamina em você; se algo, vai te deixar muito pior do que quando começou a “jogá-lo”. Ainda assim, é um projeto essencial para 2025.
Xenopurge

Por anos procurei um jogo que preenchesse o vazio deixado pelo visualmente simples, mas assustadoramente tenso “Duskers”. Comandar esquadrões dentro de uma nave desconhecida, sem saber o que espreita, é uma das minhas atividades favoritas se eu quero ter uma crise de ansiedade. Para a minha felicidade, “Xenopurge” veio para me satisfazer, ao menos em parte.
Embora ele não tenha o mesmo grau de complexidade do game da Misfits Attic de 2016, o autobattler compensa pela fantástica interface, excelentes efeitos sonoros e a sensação de impotência ao ver que você acabou de enviar um soldado para a sua morte. Chegar no final é uma jornada árdua, mas acredito que quem perseverar não vai se arrepender..
Moroi

“Moroi” não é um jogo para você. Acredito que ele não seja de fato um jogo para “ninguém”. Ao menos não para alguém que é “humano”. Como o próprio desenvolvedor Violet Saint aponta, a sua humanidade é uma aberração neste mundo.
Intercalando entre elementos de ação, narrativa e uma ligeira dose de quebra-cabeça, “Moroi” abraça o surreal e o inusitado. Todo o tempo eu me achava perguntando o que viria depois de cada cena fora do comum. Uma hora estava conversando com a lua, outra hora estava sendo perseguido por uma boneca gigante. Ele tem arestas muito pontudas, mas não deixe isso dissuadi-lo; ele merece destaque em um ano em que jogos com elementos de ação ficaram demais no “seguro”
Este é o último artigo que eu tenho planejado para 2025, e se você quer mais recomendações de jogos que raramente estão no radar de sites grandes, recomendo muito que você acompanhe o site do Virtual Moose, e a Casey Explosion – dois excelentes curadores que vão muito além do “tradicional” da mídia de jogos.
Obrigado, a todos, pelo seu tempo, atenção e comentários. Nos vemos em 2026!
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